A Psicopedagogia é uma área de conhecimento e de atuação dirigida para o processo de aprendizagem humana. Seu objeto de estudo é o ser cognoscente, ou seja, o sujeito que se dirige para a realidade e dela retira um saber. Vista no âmbito de um sistema complexo e inerente à condição humana, a aprendizagem não é estudada pela Psicopedagogia no espaço restrito da escola, ou num determinado momento da vida, posto que ocorre em todos os lugares, durante todo o tempo da existência . Difere da Pedagogia porque não se ocupa de métodos ou técnicas de ensino, assim como da Psicologia escolar, porque não reduz sua investigação e trabalho ao âmbito da Escola.
Enquanto conhecimento, interessa a todo aquele que se dedica à Educação, na medida em que possibilita uma análise das teorias relacionadas com as ações de aprender e ensinar, não apenas no sentido da prática didático-pedagógica, mas no substrato epistemológico que delas se origina para a formação do sujeito " aprendente ".Nutre-se de conhecimentos oriundos sobretudo da Epistemologia Genética, da Psicologia Social e da Psicanálise. Tem na Psicopedagogia Operativa, de Sara Pain; na Epistemologia Convergente, de Jorge Visca e na Psicopedagogia Clínica, de Alícia Fernandez, suas formulações teóricas mais expressivas.
Enquanto atuação, dirigiu-se, em seus primórdios, para os problemas relacionados com as dificuldades de aprendizagem e o fracasso escolar, mas, hoje, visa favorecer a apropriação do conhecimento no ser humano, ao longo da sua evolução, ou seja, tem por objetivo a promoção de aprendizagens e configura-se como uma prática clínica que integra diferentes campos de conhecimento, envolvendo elaboração teórica a respeito do ponto de convergência em que opera. As relações com o conhecimento, a vinculação com a aprendizagem, as significações contidas no ato de aprender, são estudados pela Psicopedagogia a fim de que possa contribuir para a análise e reformulação de práticas educativas e para a ressignificação de atitudes subjetivas.
LUDOTERAPIA: A terapia da criança
A Ludoterapia é a psicoterapia adaptada para o tratamento infantil, através do qual a criança, brincando,projeta seu modo de ser. O objetivo dessa modalidade de análise é ajudar a criança, através da brincadeira, aexpressar com maior facilidade os seus conflitos e dificuldades, ajudando-a em sua solução para que consigauma melhor integração e adaptação social, tanto no âmbito da família como da sociedade em geral. Oterapeuta observa e interpreta suas projeções para compreender o mundo interno e a dinâmica dapersonalidade da criança. Para isso, buscam-se instrumentos através dos quais as projeções são facilitadasuma vez que, quanto menor a criança, mais difícil é para ela verbalizar adequadamente seus conflitos. Pode serbrincar de casinha, criação e prática de estórias e contos de fadas, jogo do rabisco, desenho, pintura,modelagem, dentre outras atividades.Ao brincar, a criança de alguma forma “sabe” que está se expondo porque ali ela atua representando assituações que a afligem. Como coloca toda a sua energia, atenção e emoção na brincadeira, ela intui que estácomo que “transparente” ao olhar do outro. Brincar é uma forma de linguagem tão clara para a criança que elapensa ser, o seu significado, compreensível também para os outros. É por essa razão que às vezes, ao terminaruma sessão, ela pode pedir ao terapeuta que não mostre sua produção aos pais. Pode ser, por exemplo, umdesenho que ela fez de sua família, no qual ela desenhou o pai afastado no canto da página e em tamanhomenor. A sua obra pode estar denunciando dificuldades de relacionamentos na dinâmica familiar, as quais elanão se sente autorizada a abordar e com as quais não sabe tampouco lidar. Desse modo, não pode expressá-las e pede a cumplicidade do terapeuta para mantê-las em segredo.Outro exemplo: Ao brincar com osbonequinhos, a criança cria uma família em que os pais brigam muito ou batem nos filhos. Ela não estácontando uma estória adequadamente articulada através da fala, como faria um adulto, mas reproduz umacena possivelmente bastante conhecida sua. Cabe ao terapeuta investigar a origem dos conflitos, averiguandose trata-se de identificação com personagens de outras estórias, como filmes vistos na TV ou lidos em estóriasem quadrinhos ou se retrata a sua própria vida.A maioria das crianças adere facilmente à ludoterapia e adquire, em relação ao terapeuta, confiança suficientepara se expor, brincando livremente. Outras, porém, por várias possíveis motivações internas esquivam-se dasatividades projetivas, preferindo brinquedos cujo grau de exposição é muito menor, como os jogos, porexemplo, em que as regras e o comportamento são previamente determinados, reduzindo bastante o grau desua exposição. Nessa situação, fica mais difícil uma intervenção interpretativa de finalidade diagnóstica porque,sem o recurso da atividade projetiva e sem a verbalização do conflito, as sessões correm o risco de se tornarapenas uma hora de brincadeiras o que, não sendo ruim – ao contrário, muito se elabora durante a hora lúdica– pode também não ser suficientemente eficaz no sentido de ajudar a criança a lidar com a dificuldade que atrouxe até ali.Nesses casos, faz-se necessário que novos recursos sejam introduzidos, no sentido de facilitar o acesso doterapeuta à problemática central do paciente. Para isso é fundamental que, primeiramente, tenha sidoconstruído um vínculo terapêutico adequado e que o profissional tenha flexibilidade para seguir novoscaminhos, de acordo com o gosto, necessidades e recursos da criança. Desta nova porta, a criatividade deambos poderá ditar qual a atividade mais fácil e prazerosamente poderia trazer o problema à tona e seracessado sem grandes barreiras defensivas.