
O musical “O Fantasma da Ópera”, de Andrew Lloyd Webber, baseia-se num livro do escritor francês Gaston Leroux e aborda, dentre outros temas, a questão da beleza. Desde a antiguidade, procura-se, sem sucesso, conceituar a beleza. Essa discussão deixou de ser, meramente estética, e passou a ser, também, “objeto” de discussão filosófica. A definição de beleza é “problemática”, já que esse conceito tem um caráter, quase que estritamente, subjetivo. Não pode haver nenhuma regra de gosto objetiva, que determine, por meio de conceitos, o que seja belo. Para Platão, o belo está relacionado ao que é agradável à vista.
Na crítica da obra de arte, o conceito de belo entra em parceria com as noções de gosto, de equilíbrio, de harmonia, de perfeição efeitos que se produzem no sujeito apreciador, ou seja, a beleza pode estar, também, nos olhos de quem vê. Nos subterrâneos da Ópera de Paris, um fantasma assusta a todos. Mas será mesmo um fantasma? Em toda a trama, o filme nos desperta as mais variadas sensações e, nas entrelinhas, nos deixa uma importante reflexão: seria a genialidade inútil se a ‘beleza’ não acompanhar o gênio? O “Fantasma”, desde cedo, foi rejeitado pela sociedade, pois estava fora de um padrão determinado pela sociedade e pela mídia.
A cena do baile de máscaras é uma das mais elaboradas. As coreografias foram milimetricamente executadas, as luzes são fortes, vibrantes. As falas, nessa cena, reforçam a idéia de que as máscaras são necessárias. Elas escondem quem você realmente é e te envolvem num faz-de-conta, onde há a possibilidade de ser quem você quiser. Em um dos trechos ele desabafa: um fantasma que “sonha secretamente com a beleza” se o “padrão” é cruel com os “diferentes”, “esconda seu rosto, para que o mundo não o encontre”, ou mascare-se, para que o mundo aceite você. Sem dúvida, a vaidade a estética e o culto à saúde, são muito importantes, isso só se torna um problema quando há uma supervalorização que interfira na sua auto-afirmação como individuo. Não é raro que esse excesso de preocupação com a beleza e a estética esteja a serviço de evitar confrontos com a realidade, ou com sentimentos de frustração, medo, angústias e inseguranças.
A valorização desses atributos externos está enraizada em nossa consciência por uma construção de conceitos de beleza que são interiorizados logo que somos apresentados a sociedade isso acontece quando desde a infância ouvimos histórias de conto de fadas que nos mostra como ideal de modelo feminino é, loira de cabelo lisos, magríssimas e passivas cujo único desejo é encontrar um lindo príncipe encantado: forte, valente, protetor, bonito, etc. Quase sempre são personagens sem identidade própria, sem atitude e esvaziadas de conteúdo. E o que dizer das bruxas más que são sempre feias.
Dessa forma os sentidos visuais e morais se confundem, gerando assim uma sinestesia ao tipo considerado feio, como sendo desprovido de bom caráter, basta ver como é construído o perfil dos vilões e transgressores da lei, fica claro no ditado popular: “bonitinho, mas ordinário”, como se houvesse necessariamente uma proporção entre estética e moral.